Dirigido por Marc Webb, de “500 Dias com Ela”, “O Espetacular Homem-Aranha” recupera o caminho que Sam Raimi deixou em aberto após os créditos de “Homem-Aranha 3”. Algumas lacunas foram deixadas abertas, como a passagem de Venom pela trama, o relacionamento de Peter Parker, Mary Jane e Harry Osborn, e a inserção de tramas paralelas. O herói era mais adulto, forte e ficou intempestivamente depressivo depois de algumas sequências. Na nova história ele é um nerd inventivo, gênio da ciência, magricela e divertido. Webb fez o que muitos fãs imaginavam.
O novo deve agradar fãs, gregos e troianos. Entra no embalo de “Os Vingadores” (foco no relacionamento dos personagens, piadas bem boladas e inovações tecnológicas – nesse a câmera passeia em primeira pessoa e pode gerar desconforto para espectadores com labirintite no 3D) e da nova geração da Marvel, agora mais profissional, identificada com sua marca e seus diretores e caminhando por caminho seguro. A primeira trilogia, em compensação, navegava no escuro em um universo pouco explorado e experimentava situações que hoje já se sabe que não funcionam.
Temos em “Espetacular” um herói que também sofre bullying, mas responde com palavras; anda de skate e aprende aos poucos a lidar com seus poderes e sua fantasia. Em “Homem-Aranha”, Peter Parker logo percorreu os prédios em busca de diversão e sua experimentação de herói começou numa espécie de UFC sem regras. Apesar de ter sido mais fiel em alguns pontos, como a cena do trem com Dr. Octopus e a roupa no lixo.
A relação com a família também sofreu mudanças. Na primeira trilogia, Peter não sabia dos pais e suas relação com a ciência e via já em sua relação com Tio Ben e Tia May o ponto de explosão entre suas experimentações como herói e filho órfão. Nesse, a trajetória é melhor contada e a situação de Parker se injeta melhor no contexto, apesar de muitos fãs sentirem falta de uma frase assaz famosa.
Aí reside talvez a maior dificuldade de Webb na nova trama. Ele precisava amparar o herói em uma nova história e com novo vilão para não ser surpreendido com a analogia recorrente na cultura. Tampouco poderia deixar de apresentar cenas de batalhas interessantes, voos por prédios e um novo herói. Humildemente o fez. Escalou Andrew Garfield, revelação de “A Rede Social”, para criar esse nerd que tantos almejavam e retomou a série a partir do ponto de vista de um novo diretor sobre a história em quadrinhos.
É ledo engano cair na lenda de que “O Espetacular Homem-Aranha” é uma sequência e negar o fato de que muito da sua inspiração se deu da trilogia original também é besteira. É um novo filme, com novos conceitos e realizado em outra época. É mais tecnológico e contém falhas como muitas das grandes produções. A visão de Webb tem um papel fundamental, porém, para resgatar esse herói que andava meio sumido em um mundo que contempla o cinismo de Tony Stark e a fúria de Bruce Banner. Aí está “O Espetacular Homem-Aranha” para provar que Peter Parker também tem uma boa história e algumas teias para contar.